Um dos grandes músicos que
conheci foi o Zé Américo. Toca vários instrumentos e tem a capacidade de
discernir sons e tons com extrema facilidade, que chegou-se a afirmar que ele tem
um “ouvido absoluto”, isto é, capacidade extrema de musicalidade.
Mas é com a sanfona que
ele mais se identifica. Sempre é agradável ouvi-lo tocando os acordes. No dia
em que meus pais fizeram bodas de ouro, ele foi acompanhado do seu inseparável companheiro
Dr. Antônio Rodovalho, (Toninho, meu dileto presbítero), até a cidade de Gurupí-TO.
Meu pai e minha mãe estavam tão felizes que, na medida em que eles cantavam
antigas trovas, apesar de serem evangélicos há muito tempo, com um histórico de
dançar nas festas de fazenda antes de se converterem, se animaram e começaram a
arrastar o pé juntos numa dança improvisada. Aquilo foi uma festa e novidade
para nós que nunca os vimos dançando. Os netos vibraram com tudo.
Zé Américo teve o
privilégio de tocar com gente famosa como Geraldo Azevedo, e nunca
decepcionava. Nos retiros da igreja, lá estava ele com sua sanfona, fazendo
firulas e encantando a todos.
Tinha porém problemas
graves: Foi viciado em drogas, e era alcoólatra. Ele se converteu a Jesus
depois de anos de dependência. Certa vez, estando no Pico dos Pirineus, um local
turístico por ser o ponto mais alto do Estado de Goiás, teve um surto tão
violento com drogas que só não se atirou do morro porque seus amigos o
seguraram e o prenderam. Em transe se achava um passarinho e que tinha
capacidade de voar.
Quando Jesus começou a
fazer parte da sua história, ele abandonou as drogas e o álcool de forma
radical, e por mais de dez anos não teve recaídas, mas por causa do ambiente
que frequentava, um dia cedeu e sua dependência retornou de forma intensa para
o álcool. Isto entristeceu e preocupou muito a igreja e família. Seus filhos,
resolveram enviá-lo para uma temporada de três meses nos EUA, onde foi
hospedado por um tio que era pastor. Voltou recuperado, mas depois de alguns
meses, nova recaída.
A família vivia
preocupada, cercando-o e vigiando-o. Nas vésperas do natal, seu irmão o
convidou para irem à Bahia, sua terra natal, os filhos, preocupados
desaconselharam o tio, que os tranquilizou dizendo que cuidaria dele. Contudo,
ainda na viagem, sua sobrinha falou que estava levando 8 garrafas de uísque de
primeira qualidade, e seus olhos brilharam. Sem cerimônia afirmou que tinha
certeza de que estas garrafas seriam consumidas nas festas de natal.
Chegando à Bahia, foram
recebidos com muita alegria e honra. Ele, bom sanfoneiro, começou a tocar a
noite inteira, regado por muita bebida. Numa destas madrugadas, só conseguiu
chegar ao quarto para dormir, porque os amigos praticamente o carregaram.
Novamente o álcool passara a dominar sua vida.
Algo, porém, inusitado
aconteceria. Ele sonhou que seu pai, já falecido em 1972 lhe apareceu,
mostrando-lhe duas cenas: De um lado, bebidas de todas as marcas e gostos; de
outro, sua família, filhos e netos. E ele então lhe disse que Zé Américo
deveria decidir por um dos dois, porque não teria ambos. Seu pai fora um homem
severo e justo, e por isto era muito respeitado pela família. Diante das
alternativas, ele não teve dúvida: escolheu a família. E instantaneamente, no
seu sonho, o cenário com as bebidas desapareceu, e só a família permaneceu.
Acordou sobressaltado. Sendo
evangélico sabia que os mortos não voltam, mas entendeu imediatamente que esta
havia sido a forma que Jesus utilizara para trazer-lhe libertação. No outro
dia, logo cedo as pessoas começaram a lhe trazer bebida, e ele rejeitava. Quando
indagavam desde quando ele havia parado, respondia: Algumas horas atrás.
Hoje Zé Américo não toca
em bebida. Ele afirma que a diferença de hoje é que, antes ele não bebia, mas a
bebida ocupava sempre seu pensamento, agora ele não tem mais vontade. Sabe que não
pode mais voltar a beber, por amor à sua família.
Aquele sonho foi apenas
um sonho, mas que sonho!
Ele revolucionou a vida
do Zé Américo.