quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Cicy


Clarice Lispector:
“Morrer às vezes parece um egoísmo, mas quem morre às vezes precisa muito” 
A Descoberta do Mundo, pg 144

Dia 17/02/2014 participei do funeral da Cicy (Darcy Abreu Rocha), irmã de meu cunhado Abmael Lima de Abreu. Não tive muito contacto com ela, mas conhecia bem sua história e tive alguns esparsos encontros com seus filhos Héber, Queila e Fernando. Fui ao sepultamento em consideração aos irmãos, aos filhos da Cicy e especialmente ao meu cunhado que tem sido extremamente cuidadoso e amoroso comigo.
O sepultamento se deu na Igreja Batista de Criméia Oeste, embora ela fosse membro da Capela Presbiteriana. Apesar de nunca se transferir de igreja, ultimamente frequentava os cultos nesta comunidade que ficava em frente à sua casa. O pastor que presidiu a cerimônia estava visivelmente emocionado na medida em que, carinhosamente relatava a história.
Quando aquela igreja resolveu construir o atual templo naquele lugar, logo após a chegada do pastor e outros 6 membros da nova comunidade que se reuniram no primeiro encontro para lançar a pedra fundamental debaixo de uma goiabeira, ela se aproximou e disse que fazia 15 anos que orava para que Deus mandasse alguma coisa boa para ser construída naquele lote. E já fez amizade com os pastores e irmãos.
Quando a igreja resolveu executar a construção, colocou uma faixa na frente do terreno que dizia: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão vigia a sentinela” (Sl 127.1), ela se aproximou e disse: “Seria importante colocar também o versículo do Salmo 126 que diz: Grandes coisas fez o Senhor, por isto estamos alegres”.
Cicy encontrava enorme prazer em ajudar a obra e ornamentar a igreja. Quando algum novo projeto precisava ser realizado ela não chegava ao pastor dizendo que algo precisava ser feito, antes dizia: “Nós precisamos fazer isto...”.
O pastor relatou que muitas vezes, quando reuniões de liderança se estendiam até tarde, por morava em frente à igreja, preparava café, biscoitos, bolo ou suco e levava para que as pessoas que estavam ali trabalhando não ficassem com fome. Continuou cuidando dos irmãos enquanto sua saúde permitiu.

Ultimamente vinha lutando contra um câncer. Clarice Lispector afirma que existem determinadas pessoas que sentem que precisam morrer, porque sua hora é chegada. Precisam partir. Com uma sólida fé, passou a dizer de forma constante a amigos e pessoas que a visitavam que estava pronta para ir embora, na hora que Jesus quisesse chamá-la. E foi isto que aconteceu naquela segunda feira. Depois de um tempo de luta, seu corpo cedera à doença. Mais que isto, porém, Deus a chamou para perto de si. Afinal, não é isto que diz as Escrituras: “Preciosa é aos olhos do Senhor a morte de seus santos”?

Roubando o carro do ladrão



D. Elzira participava fielmente de uma reunião de oração na Gávea, Rio de Janeiro. Todas as segundas, as 15 hs, um grupo de mulheres se concentrava ali na rua dos Oitis, para ler a Bíblia, tomar chá, e orar, e ela sempre estava presente. Morava na favela “Parque da Cidade”, e ganhava seu pão levando os filhos das amigas para a escola. Todos os dias, fazia uma lotação de seis a sete crianças e as mulheres lhe pagavam por este trabalho. Sua velha Belina era o meio de transporte.
Nesta segunda, algo sinistro aconteceria, pois ao sair da reunião descobriu que seu carro fora roubado. Ficou desolada, afinal estava numa reunião de oração, e este carro era seu meio de transporte. Suas irmãs da igreja vieram consolá-la, chamaram a polícia e fizeram o Boletim de Ocorrência. Seu carro não tinha seguro, e ela não tinha dinheiro para comprar outro veículo. Qual chance teria de encontrar um veiculo velho que logo seria desmanchado para venda de peças em algum ferro velho no subúrbio do Rio?
No outro dia cedo, seu marido que trabalhava no centro do Rio, estava dentro do ônibus se dirigindo ao trabalho, quando vê o carro de sua esposa estacionado na rua. Pediu ao motorista para parar o ônibus, saltou ali mesmo com o carro ainda em movimento, curiosa e inexplicavelmente estava com as chaves do carro. Entrou nele, e roubou o carro que o ladrão lhe roubara.

Este evento aconteceu em meados de 1993.

O ladrão que devolveu o carro


  
Black andava num velho carro, com o qual resolvia suas rotinas e afazeres pessoais, e visitava os membros de sua paróquia. Como pastor vivia um estilo de vida simples, sem muita vaidade e ostentação. Os recursos não eram muitos.
Um dia, ao sair da casa de um amigo, ficou chocado ao perceber que seu velho carro fora alvo de gatunagem. Ficou triste por ter algum material pessoal de discipulado e por ter perdido ainda sua velha bíblia. Pensou em seu coração que seria muito bom, se pelo menos o ladrão tivesse a curiosidade de ler sua bíblia e pudesse se converter.
No outro dia, de pois de uma noite mal dormida, tentando ainda assimilar a perda, recebeu um estranho telefonema:
-“Foi você que teve seu carro roubado ontem?”
-“Sim!” Respondeu ele.
-“O Senhor é pastor?”
-“Sou”
-“Então venha buscar o seu carro no Parque Amazonas (e deu toda a orientação de como chegar no local), pois não vou roubar carro de pastor”
Na sua simplicidade, o Pr. Black ainda tentou saber o nome do ladrão para orar por ele, e ele disse que não daria. Ao sair de sua casa, tentando ver como chegaria no local, mas com medo de ser algum trote, encontrou seu vizinho, que era um macumbeiro, e este, quando soube da história lhe disse que não perderia este evento por nada deste mundo e se ofereceu para lhe dar carona. Agora a “trinca” de personagens estava pronta: O pastor, o macumbeiro e o ladrão.
Seguindo as orientações recebidas, encontraram o carro, intacto, como havia sido informado. Este evento aconteceu em Anápolis, no ano de 1992.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Eu vi uma coisa

Esta narrativa abaixo foi feita por Clarice Lispector. :
Eu vi uma coisa. Coisa mesmo. Eram dez horas da noite na Praça Tiradentes e o táxi corria. Então eu vi uma rua que nunca mais vou esquecer. Não vou descrevê-la; ela é minha. Só posso dizer que estava vazia e eram dez horas da noite. Nada mais. Fui porém germinada”.  

Clarice Lispector Rio, Ed. Rocco, 1999, A descoberta do mundo, pg 51

O que a autora queria dizer com isto?
A que ela se reporta? O que ela viu? O que a “germinou”de forma tão significativa?
O que ela não quer descrever?

“Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia”(Shakespeare).