No dia 28 de marco de 2016 faleceu aos 88 anos a última irmã
de minha mãe, que teve 9 uma grande família com nove irmãos.
Tia Mariquinha teve uma biografia conturbada. Por decisões
pessoais equivocadas na juventude, por rebeldia e desatino somados ao seu
ambiente marcado pelo falso moralismo na década de 40 e 50 anos, ela
desestruturou sua psique, sendo difamada e questionada. As pressões emocionais
e sociais geravam nela surtos psicóticos, com graves danos colaterais para sua vida.
No meio de todas as tribulações, conseguiu ainda criar dois
filhos abençoados, que se tornaram bons e amáveis, constituíram suas famílias
no temor do Senhor. Saulo, inclusive, tornou-se diácono da Igreja Presbiteriana
em Mutum-MG.
Tia Mariquinha seguia sua rotina de interior, estilo de vida
simples, era franca e direta nas suas observações, e não gostava de receber
presentes, mas apreciava profundamente quando lhe davam dinheiro. Familiares e
amigos sabiam disto, e quando iam à sua casa levavam dinheiro como lembrança.
Mesmo quando todos ainda a visitavam, assentados na sala, na
primeira oportunidade que ela encontrava, pedia licença e ia para seu quarto
para furtivamente “amoitar” seu dinheiro. Já ouviram esta palavra? Literalmente
significa “esconder na moita”, e logo em seguida retornava sorridente para
continuar seu papel de anfitriã.
Na última visita que mamãe lhe fez, ela ainda apresentava um
quadro de saúde normal para uma pessoa desta idade, levou, como sempre fazia,
um “presentinho” para ela, e nas conversas e informalidades lhe perguntou:
“Você em medo de morrer?” E ela respondeu: “Medo de morrer? O crente não tem
medo de morrer. Eu fico é com pena dos que ficam!”.
Ela morreu num dia em que recebeu a visita de sua filha que
mora em outra cidade. Depois do almoço, se retirou para seu quarto e seu filho
percebeu que ela estava com algumas reações neurológicas estranhas. Ao se
aproximar percebeu que tais espasmos eram resultantes de um ataque cardíaco que
a matou quase instantaneamente.
Ao conversar com minha mãe, tentando ser solícito e presente
na hora de sua dor, afinal ultimamente ela teve várias perdas significativas,
comentou resignadamente: “Foi uma morte boa. Não deu trabalho pra ninguém, nem
ficou numa cama”. Se é que podemos falar de “morte boa”.