terça-feira, 6 de junho de 2017

”Jalmices”



Esta expressão acima não existe em português. Eu a criei para falar de uma querida irmã, Jalma Wilding, que nos deixou dia 06 de Junho de 2017 para se encontrar com o seu Criador.
Suas características: Amava a Jesus e sua igreja. Esteve envolvida em alguns projetos de plantações de igrejas na cidade de Anápolis. Foi líder das mulheres da Igreja Presbiteriana Central por muito anos. Era espirituosa, tinha um bom senso de humor e um senso critico refinado. Ela também era refinada, uma lady na verdadeira expressão do termo.
Três frases dela me marcaram. São as “Jalmices”.

Primeira “Quando sou boa, sou mais ou menos; quando sou ruim, sou ótima!”. D. Jalma sabia que ela era pecadora, não tinha crise com a auto compreensão e confissão da necessidade que tinha de Deus. Justiça própria, não era algo que iludia seu coração.

Segunda, esta foi dita numa das reuniões das mulheres da igreja: “O meu problema não é não confiar em Deus, mas desconfiar de Deus”. Isto revelava sua espiritualidade autêntica e integridade filosófica aliada à Palavra de Deus. A grande crise da alma humana não é admitir que existe um Deus, mais sério é confiar e depender de Deus, mas, em geral, nossa dificuldade em confiar está relacionada ao fato de que não temos facilidade em depositar nossa vida nas mãos de Deus porque não sabemos se podemos confiar realmente em Deus.

A terceira “Jalmice” se deu num pequeno diálogo. Eu estava pregando uma série de sermões sobre a graça de Deus, quando ela um dia me disse que “nunca havia pensado tanto na graça de Deus ouvindo estes sermões”, meio encabulado em disse que estava pregando para mim mesmo, para entender que a grande maravilha das Escrituras é a revelação de que tudo procede de Deus. A salvação é obra de Deus, Cristo é quem garante nossa salvação. Foi então que ela me afirmou contemplativamente: “Eh, realmente precisamos lembrar daquilo que é essencial no Evangelho”.

Estas reflexões de D. Jalma, falam bastante daquilo que ela realmente era. Mulher de Deus, resgatada pela graça de Deus, que via a si mesma sob a perspectiva da cruz de Cristo. Não há lugar mais seguro que a justiça de Cristo, que lavou seus pecados e a tornou pura pelo seu sangue redentor.

No domingo anterior à sua partida, acertei com a Mayra que levaria santa ceia para ela na quinta feira. Ela morreu na segunda. Achou melhor receber a ceia das mãos de Jesus...


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Saudades...

Detalhe póstumo:
Jalma foi criada por uma piedosa mulher, D. Anita, membro da Primeira Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte. Ela faleceu aos 104 anos. o que há de surpreendente na sua morte? Ela se deu exatamente um ano depois da morte da Jalma. 

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Uma oferta de paz



No livro O Totem da Paz,  (Don Richardson, Ed Betânia, Venda Nova, 1974, pg 208-218), há um relato intrigante presenciado pelo autor de uma cerimonia de paz entre o povo sawi e kamur, na antiga área holandesa da Nova Guiné.
Durante alguns anos o missionário tentava manter a paz entre os dois povos, em vão. Os conflitos tribais faziam parte dos rituais e lutas entre as diferentes etnias e tais brigas eram históricas. Cansado de presenciar tantas brigas e mortes, Richardson ameaçou sair da região caso eles não vivessem em paz. Para aquelas tribos isto seria um desastre, porque além da saúde e cuidados, ele trazia ferramentas como machados, facas, facões, enxadas, que eram muito úteis para pessoas que tinham que lidar com a floresta.

Então,  um fato inesperado aconteceu.
Um dia, ele ouve um estranho barulho entre estes dois povos, e saiu assustado pensando se tratar de mais uma briga. Foi quando ele viu nos braços de Mahaem, líder dos Sawis, com seu pequeno filho de seis meses, e atrás dele sua esposa Syado soluçando compulsivamente. O povo kamur, em massa, também descia de suas casas. A criancinha agarrada ao pescoço do pai, parecia passiva e inconsciente de que algo incomum pudesse acontecer.
Syado desesperada tentava retirar a criança das mãos do pai, mas em vão. A aldeia entra em convulsão e murmúrio, gritos de mulheres apreensivas, e o missionário ouvia o pai gritando palavras incompreensíveis e toda aldeia em grande tumulto.
A seguir, o pai entrega seu filho ao seu irmão dizendo que não tinha coragem de fazer o que precisava. O missionário não sabia o que aquilo significava e ficou apreensivo pensando tratar-se de algum sacrifício de criança. A certa altura, um homem da outra aldeia destacou-se do grupo e correu em direção a seu filho Biakadon, seu único filho que estava deitado na esteira. Só então sua esposa Wumi percebeu o que ia acontecer e saiu correndo atrás do marido, suplicando-o com toda força que não fizesse aquilo.
Fracassada do seu intento, ela deixou-se cair numa poça de lama e numa angústia profunda de alma, impotente, começou a gritar: “Biakadon, Biakadon, meu filho!”
Quando os dois homens se aproximaram, e disseram um ao outro: “Você quer defender os interesses do seu povo perante o meu povo?” e mediante resposta positiva, trocaram seus filhos, e as duas aldeias ergueram-se com gritos de kahap kaman, que fazia a terra estremecer.
Logo que uma das tribos se distanciou, o homem gritou: “Aqueles que aceitam esta criança como oferenda de paz, venham aqui e imponham as mãos sobre ela” e foi então que todos, puseram-se em fila e foram colocando a mão sobre a criança, demonstrando sua aceitação pelo tratado de paz.
Sem entender o ritual, o missionário apressou-se a indagar o que aconteceria com as crianças que agora foram trocadas de tribo. Seriam elas sacrificadas? Que tipo de sacrifício seria este?  Algumas parentes da mulher orfanada de seu filho se acercaram dela e começaram a chorar juntas, enquanto o novo membro de tribo era levado para a “casa dos homens”.
O que aconteceria a estas crianças?
Um dos homens mais próximos lhe explicou: “Elas não sofrerão dano algum, pelo contrário, as duas aldeias vão proteger a vida desses filhos da paz com mais cuidado do que protegem seus próprios filhos. Porque se eles morrerem, a tribo não mais estará obrigada ao acordo de paz.”
A paz fora comprada por um alto preço.
As crianças ganharam diferentes nomes e nova família, não era mais um estranho, mas fora acolhido como um homem daquela tribo. Depois deste evento, as tribos novamente se encontraram, agora como um único povo para dançar, formando círculos que simbolizavam um abraço maior, e carregando seus penhores de paz, vivos e alegres. A inimizade e a desconfiança agora desapareceram. Se um homem dava seu filho para seus inimigos, então ele poderia merecer a confiança. Esta prova de sinceridade eliminava qualquer sombra de dúvidas.

Ao ler este relato, pude imaginar o que Deus conosco:

Ele deu seu único Filho. A diferença é que nada demos em troca.
Ele deu seu único Filho. Mas ele não foi poupado, mas de fato morreu.
Ele deu seu único Filho para reconciliar seus inimigos, trazendo a paz. O ofendido faz uma oferta de paz aos ofensores.
Sua iniciativa foi unilateral.
Ele sofreu toda a dor de ver seu Filho humilhado, para nos resgatar dos nossos pecados.
Mas a paz foi feita, mediante seu sangue.
A parede da separação agora foi destruída. Justificados diante de Deus, agora temos paz por meio do sangue de seu Filho.