Estive em Fevereiro de 2018 pregando na cidade de Guariba-SP, Onde tive o privilegio de conhecer o Rev. André Rossi e passar um tempo muito precioso com sua igreja e família e quando ele me trazia para Ribeirão Preto de onde pegaria meu ônibus para Anápolis, ele me deu um grande presente ao contar sua experiência de conversão. Fui profundamente impactado pela sua história e o encorajei a escrevê-la. Ele o fez com muita graça, e agora trago aqui o presente que recebi.
Leia e desfrute!
Deus
faz milagres todos os dias nos corações que olham para sua Palavra com Fé
Minha mãe faleceu em 1981, vitimada
por um tumor no cérebro, com 36 anos de idade quando eu tinha 4 anos e meio e
minha irmã caçula 2 anos e meio. Meu pai, sofrendo com a tentativa do sogro de
buscar judicialmente a minha guarda e da minha irmã e também motivado pela
necessidade de ter alguém que cuidasse de seus filhos dando assim o curso
natural à sua vida, casou-se novamente no ano seguinte com uma, até então,
completa desconhecida. Na época, meu pai contava com 34 anos e sua nova esposa
com 19.
A partir disso tudo mudou uma nova realidade se instalou na minha vida e
da minha irmã. Mudanças bruscas chegaram. Meu pai que até então era católico,
por causa do novo casamento passou a ser Testemunha de Jeová, religião da nova
esposa. Como Testemunhas de Jeová, não podíamos comemorar mais nossos
aniversários e raramente participávamos das festas de aniversários dos primos.
Também na escola não podíamos cantar o Hino Nacional ou participarmos
absolutamente de nada que envolvesse, do ponto de vista dos Testemunhas de
Jeová, qualquer “culto” à Pátria ou à Bandeira. Dia dos Pais e das mães foram
abolidos de nossa realidade. Não podíamos mais colorir desenhos ou levá-los
para casa para homenagear nosso progenitor e nossa nova cuidadora.
De todas as mudanças, a mais drástica foi a distância que tínhamos que
ter de nosso pai. Minha madrasta, talvez pela pouca idade e falta de
experiência, tinha a mim e a minha irmã como rivais do amor de meu pai. No
início do casamento nem tanto, porque meu pai mantinha um monitoramento intenso
sobre a adaptação da nova família, mas depois de um tempo quando a confiança na
nova esposa adquiriu determinada escala, meu pai afrouxou as rédeas da
supervisão passando a confiar no “cuidado proposto”, o que era preciso e
esperado, foi aí que as agressões tiveram seu início. Tenho guardado na memória
muitos eventos desses. As agressões nunca eram verbais, sempre físicas e todas
em oculto dos olhos de meu pai. Demorou muito para que ele percebesse que algo
estava errado. O ponto de partida dessa percepção foi ocasionado por
desconfianças semeadas por uma tia, irmã de minha mãe e por um hematoma na
cabeça de minha irmã. O caso do hematoma foi o seguinte: Morávamos em um
apartamento no centro da cidade e no calor, como éramos pequenos minha madrasta
gostava de nos dar banho no tanque de pedra de lavar roupas. Pois bem, minha
irmã foi a primeira e nesse processo, quando a madrasta se dedicou a lavar a
cabeça da minha irmã, esta não se comportou como a madrasta esperava ou queria
e sem paciência e com raiva, com os dedos entrelaçados nos cabelos de minha
irmã bateu a cabeça dela 3 vezes contra a pedra do tanque. Eu, paralisado pelo
medo de apanhar não tinha coragem de fazer ou falar alguma coisa. Chorei em
silêncio e sem lágrimas externas esperava que aquela tortura parasse. Depois do
ocorrido, se dando conta do consequente “galo” mandou que minha irmã e eu
omitíssemos tal fato de meu pai, e assim se deu. Contudo, quando ele chegou em
casa, nós mantivemos certa distância dele (para não incorrer na ira da
madrasta), mas ele insistentemente nos chamou para conversar e brincar, minha
irmã se assentou em seu colo e ele querendo acaricia-la passou a mão sobre sua
cabeça e percebeu o “galo”, olhou para mim e disse: “Não me diga nada com a
boca, apenas acene com a cabeça.... você sabe a razão deste machucado na cabeça
da tua irmã?” Acenei positivamente. Depois perguntou novamente: “isso aconteceu
brincando?” Acenei negativamente. “Foi a Marli (madrasta) quem fez?” Acenei
positivamente. Ele se levantou e me disse: “Fique com tua irmã”. Naquela hora
uma mistura de alívio e medo se apoderou de mim. Alívio porque a esperança de
que algo mudaria despontou no horizonte. Por outro lado, o medo da retaliação
era também presente. Foi a primeira briga que tenho lembrança. Aquela noite o
silêncio tomou conta da casa. Na manhã seguinte, ouvi quando meu pai se
despedia para ir ao trabalho e o bater da porta marcando sua saída, alguns
segundos depois minha irmã e eu fomos retirados da cama debaixo de socos e
puxões de cabelo no pé da cabeça. Nada havia mudado.
Dentre os vários métodos de castigos lembro-me claramente das múltiplas
chineladas nas costas das pernas com chinelos havaiana, dos socos na cabeça,
dos tapas na boca, das cintadas no bumbum e é claro não poderia esquecer-me do
mais corriqueiro, o famoso puxão de orelhas num método todo peculiar de pegar,
apertar, torcer e levantar, o que me rendeu um descolamento da orelha. Nesta ocasião
meu pai fez um curativo e me levou ao Conselho Tutelar da minha cidade. Mas
como ele fez um curativo e não tinha mais a presença de sangue, eles apenas o
orientaram no modo futuro de procedimento em caso de repetência do fato. Ainda
hoje é impossível não se emocionar com tais lembranças.
O ponto final deste período da história se deu quando numa certa
ocasião, na casa da mãe da minha madrasta, no famoso banho no tanque de lavar
roupas, pelas mesmas razões apresentadas acima quando do episódio semelhante,
ouvi da boca da irmã da madrasta o seguinte dizer: “Marli, Marli, este menino
não será criança para sempre, um dia ele crescerá e aí ele vai te pegar”.
Confesso que nunca havia pensado nisso. Mas naquela ocasião essas palavras
fizeram efeito. Eu pensei: “É verdade!!!!! Vou esperar esse dia chegar!!!! 3
anos se passaram e o dia esperado chegou. Numa certa tarde a Marli passava
roupas quando por um desentendimento comigo ela tirou o chinelo havaiana do pé
e com ele em uma das mãos insinuou que me bateria. Na mesa ocasião, eu já
cansado daquela situação que se arrastava há uns 5 ou 6 anos, não aguentando
mais apanhar declarei que jamais ela bateria em mim novamente. Ela assustou e
partiu para cima e eu para me defender acabei por machucá-la. O duro é que não
fiquei feliz como imaginava que ficaria, pelo contrário, me senti profundamente
culpado por tê-la ferido. O embate terminou. Quando meu pai chegou eles final e
definitivamente se separam. Por conta da separação meu pai foi “desassociado”
dos Testemunhas de Jeová. Este termo significa banido da convivência, do culto
e das amizades dos TJs.
Agora, com a madrasta longe não restava alternativa a não ser morarmos
com a avó, mãe do pai. E assim foi feito. Minha avó era espanhola. Chegou ao
Brasil com 5 anos de idade. Se orgulhava de ter aprendido e mantido a tradição
religiosa da família, o catolicismo. Mas além de católica a vó também era
benzedeira. Não sei se isso ela aprendeu com a família. Mas sei que a vivência
na casa dela era boa por um lado e misteriosa e mística por outro. Era boa
porque como avó ela nos paparicava muito e era muito bom e gostoso tudo o que
ela fazia. Mas era também misteriosa e mística porque ela dizia que falava com
os mortos. Certa feita, ainda no período posterior à morte de minha mãe e
anterior ao novo casamento de meu pai, foi com a avó que estivemos e naquele
período, por ser ela viúva dormíamos com ela em sua cama. Numa madrugada, o
quarto todo escuro, acordei e vi minha avó assentada na beira da cama, mesmo
escuro era possível ver o seu vulto. Eu também a ouvia conversando com alguém.
Quando me assentei para ver com quem ela falava, elas se despediram e eu não vi
ninguém. Quando perguntei a ela com quem falava ela disse que era com uma
menina que todas as noites aparecia para ela no quarto chamando-a para
conversar. “A menina te ouviu e foi embora”, disse ela. Eu nunca vi ou ouvi a
voz desta “menina”, mas por várias vezes me recordo de ver a vó assentada na
beira da cama conversando com alguém. Por outro lado, todas as noites quando
íamos dormir eu ouvia passos na casa. Minha avó dizia que não era ninguém, mas
eram passos o que minha irmã e eu ouvíamos. Quando não eram os passos ouvíamos
a porta do forno do fogão abrir e fechar. Todo esse contexto da casa da avó
perdurou minha adolescência inteira e inicio da juventude. A vó dizia que eu
precisava de Deus e me incentivava a fazer a catequese. Por respeito a ela eu
fui, mas na segunda aula fui mandado embora pelo catequista. Ora, eu queria
saber por que as coisas eram como estavam sendo ensinadas, mas ele não teve
paciência para minhas perguntas e me convidou a me retirar o que fiz
prontamente.
Nessa mesma época meu pai frequentava o espiritismo kardecista e por
causa dele eu o acompanhava. Um dia os médiuns disseram-lhe que eu tinha o “dom
da mediunidade” e que ele precisava me levar mais para que esse dom fosse
desenvolvido. Daquele dia em diante ele me proibiu de ir ao centro espírita e
eu nunca mais voltei.
Noutra ocasião fui com um amigo em uma casa que para entrarmos era
preciso pedir licença ao Diabo. Uma vez lá dentro, um demônio se aproximou de
mim e ofereceu seus serviços para disciplinar aqueles que agissem com injustiça
para comigo. Ele disse que quando eu desejasse a ajuda dele era para eu falar o
nome do sujeito ofensor, o nome do demônio e bater o pé 7 vezes no chão. Certa
ocasião, quando alguém me maltratou verbalmente pensei em invocar a ajuda demoníaca
mas ao mesmo instante tive muito medo do que poderia acontecer com a tal pessoa
e não invoquei o demônio. Naquele dia pedia Deus que me fizesse esquecer aquele
nome e assim se deu.
Eu pensava que com a madrasta longe as lutas cessariam. Na realidade,
elas se apresentaram de outra forma agora. Minha avó era muito idosa quando
fomos morar com ela. Contava com aproximadamente 78 anos. Não tinha mais vigor
para acompanhar a criação dos netos. Meu pai na época viajava muito a trabalho
chegando inclusive a ficar de 20 a 30 dias fora. Meu tio solteiro que morava
com minha avó acabou ocupando a posição de pai embora com algumas ressalvas. O
fato é que em minha vida um sentimento intenso de raiva começou a tomar lugar
em meu coração. Não tinha explicação. Eu acordava à noite sentindo muita raiva
e a única maneira que conhecia para aliviar esse sentimento era sentindo dor.
Eu pegava um canivete que meu pai me deu e com ele cortava o peito duas ou três
vezes. Depois de me cortar, revestia meu peito com papel higiênico para ninguém
perceber o sangue e voltava a dormir. Era o que me aliviava. Mais tarde o tio e
meu pai me ensinaram a andar de carro, eu tinha apenas 12 anos quando aprendi a
dirigir. Eu era apaixonado por carros. Meu tio deixava eu dirigir seu fusca no
bairro onde morávamos. Como eu amava dirigir! O fato é que por causa do
sentimento de raiva que brotava em meu coração a rebeldia se instalou e a
válvula de escape era o carro. Direção perigosa, cavalos de pau, e atos
irresponsáveis com carros faziam parte das opções. Além das manobras
arriscadas, a bebida alcoólica também foi adicionada aos momentos. Graças a
Deus, drogas tais como maconha e cocaína conheci apenas com os olhos.
Um tio, irmão de minha mãe me ofereceu trabalho em sua loja de
acessórios de carro, uni a necessidade com o prazer. Trabalhei com ele durante
quase toda a adolescência. Ele tinha um funcionário que era pastor da Igreja
Evangélica Deus é Amor e durante muito tempo esse moço me falou do amor de
Jesus. Eu o ouvia com atenção e respeito, mas ainda não foi daquela vez.
A raiva crescia, muitas vezes pensei em suicídio. Aparentemente eu era
desprovido de amor e cuidado por mim mesmo. Sempre me arriscava por demais em
tudo o que envolvesse carro ou algo motorizado. Contudo, alguma coisa dentro de
mim, nunca me deixou levar à cabo os projetos de suicídio. Uma vez contei a meu
pai sobre esse meu desejo. Na época, meu pai também se achava em tempestades
por todos os lados. Então ele me disse: “Filho, na minha instrução religiosa o
suicida vai para o inferno. Eu não quero isso para você. Pense bem nisso que
você está me dizendo e se quiser morrer mesmo eu mato você. Eu já estou no inferno,
o peso da tua morte não me acrescentará mais nada.” Eu respondi para ele que
pensaria e que na semana seguinte daria a resposta. Confesso que naquela semana
considerei verdadeiramente a proposta. Considerei com sinceridade, mas o medo
da morte tornou-se mais forte. Findando a semana voltamos a falar sobre o caso
e lhe disse que havia pensado e que ficaria por aqui mais um pouco “kkkkkk”.
Disse a ele que se mudasse de ideia o avisaria.
Dentre todos os meus amigos, havia um que se destacava. Com esse tal eu
fazia as artes de carro e quase todas as loucuras daquela faze. Num certo fim
de semana, depois de andarmos 70 km de bicicleta, ele me avisou que não
sairíamos para o centro da cidade naquele sábado, pois tinha de buscar a
namorada na casa da tia dela em São José do Rio Preto. Nos despedimos e cada um
foi para seu destino. Eu tinha a intenção de ir para casa, tomar banho e sair,
ele iria buscar a namorada. Depois do banho tomado e arrumado avisei a vó que
iria dar uma voltinha, mas quando saía da casa propriamente dito, senti como
que alguém me dizia para não sair e ficar em casa. Resolvi ficar. Passados uns
30 minutos um “buzinaço” de início na porta da casa da vó. Quando fui ver do
que se tratava eis que era meu amigo, de carro me chamando para ir com ele para
Rio Preto. Perguntei por que ele havia mudado de ideia. Ele respondeu que já
estava na pista em direção à São José do Rio Preto e já andara cerca de 15 km,
quando uma força constante e intensa o compelia a voltar e me buscar. Achei
aquele trem meio estranho, mas avisei a vó e fomos para Rio Preto.
Em São José do Rio Preto conheci a tia da namorada dele, chamava-se
Carmem. Ficamos na casa dela aquele fim de semana. Por razões inexplicáveis os
dois dentes do cinzo meus e dele resolveram nascer naquela noite de sábado. Com
a boca inchada e quase sem podermos falar ficamos confinados à casa da tia
naquela noite. No domingo, antes de voltarmos para Catanduva, a Carmem me fez
um convite. Ela disse que estava abrindo um escritório imobiliário em Fernandópolis
e precisava de gente para trabalhar. Disse que como estava no início do
empreendimento em Fernandópolis não poderia pagar meu salário em dinheiro, mas
me garantiria casa, comida, roupas lavadas e o ensino do ofício de corretor de
imóveis. Disse a ela que precisava falar com meu pai. Chegando em Catanduva lhe
passei a oferta tal como havia recebido. A resposta dele me surpreendeu, ele
disse: Pode ir! Eu perguntei se ele entendeu que eu não receberia salário em
dinheiro? Ele respondeu que o conhecimento que adquiriria não tinha preço e que
eu deveria me preparar com todas as oportunidades que me aparecesse de saberes,
pois o dia de amanhã era muito incerto. Ele disse: tudo o que você aprender
hoje, poderá ser usado amanhã numa eventual necessidade tua. Fiz minhas malas e
fui.
Cheguei a Fernandópolis
no inicio de dezembro de 1995, eu estava com 18 anos de idade. Naquele mês foi
a primeira vez que participei de um culto na Igreja Presbiteriana. Fiquei
encantado com o grupo de louvor e com o pastor, Rev. Daniel Custódio. Fui muito
bem recebido pela igreja. No que concerne à pregação do pastor eu ainda me
achava com o coração endurecido. Contudo, a Carmem quase todos os dias me
falava do amor de Jesus e da necessidade de fé nele, do arrependimento e mudança
de vida. Na noite do dia 15 daquele mesmo mês, achávamos na casa dela eu e ela
somente, suas filhas haviam saído com o pai. Eu estava na sala assistindo à
televisão e ela estava na copa lendo a Bíblia. Inadvertidamente visitas
chegaram à casa. Carmem deixou sua Bíblia sobre a mesa da copa e foi com as
visitas para a cozinha. Na mesma hora a raiva começou a florescer e
abruptamente aumentava mais e mais. Foi a primeira vez que senti vontade de ir
à igreja. Era uma sexta feira, não havia nenhuma atividade da igreja em curso.
A Carmem me ofereceu o seu carro para eu dar uma volta, mas a raiva era tamanha
que se eu saísse com o carro dela a coisa não terminaria bem. Meu desejo era ir
embora e voltar para minha cidade. Comecei a andar pela casa e nesse percurso
eu passava pela copa e via a Bíblia sobre a mesa. Havia alguma coisa muito
forte que tencionava me levar a ler a Bíblia. Mantive-me firme até onde deu.
Sentei-me à mesa. Peguei a Bíblia e fiz minha primeira oração. Eu disse: “Oh
Deus, eu não te conheço. A Carmem te conhece e mais um tanto de gente e todos
eles dizem que o Senhor existe, conhece a vida de todos e é o único que pode
mudá-las. Eu não sei porque minha vida é assim. Mas eu estou cansado. Por
favor! Se o Senhor pode mudar minha vida mude. Eu não sei orar, mas vou abrir a
Bíblia, fale comigo por favor!” Quando abri a Bíblia chamou-me atenção o Salmo
42. Cada verso lido deste Salmo foi como se eu estivesse vendo minha história
passar toda diante dos meus olhos com uma única novidade, ele me mostrava o que
precisava fazer: “Por que estás
abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois
ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu.” (Salmo 42.11). Ao
findar da leitura deste Salmo toda a raiva foi embora e nunca mais voltou. No
lugar da raiva uma alegria incontrolável tomava conta de toda minha alma. As
visitas, fechada a Bíblia se retiraram imediatamente. Chamei a Carmem e lhe
contei todo o ocorrido. Ela ficou maravilhada com meu relato e sem titubear me
disse: Você que entregar tua vida para Jesus? Sim, eu respondi. Ela me levou
imediatamente para a sala de sua casa, me colocou de joelhos e orou comigo. Foi
ali que entreguei minha vida a Cristo. No dia seguinte, num espaço de meia
hora, 4 pessoas distintas, sem falar uma com as outras e em momentos distintos
e restritos à minha pessoa somente me interpelaram sobre a razão pela qual
minha fisionomia se encontrava leve, alegre, esperançosa e não mais carrancuda,
cabisbaixa e iracunda. A cada uma contei o ocorrido da noite passada como a
única coisa que me havia acontecido extraordinariamente.
No dia 28 daquele mesmo mês foi meu
aniversário de 19 anos. A Carmem me deu minha primeira Bíblia. No ano seguinte
1996 eu li naquela Bíblia duas vezes o Velho Testamento inteiro e 3 vezes o
Novo.
Infelizmente em o escritório
imobiliário da Carmem não deu certo em no segundo semestre de 1996 ela
empreendeu os preparativos para retornar à Rio Preto.
Em Janeiro de 1997 comecei a
frequentar a Igreja Presbiteriana na minha cidade natal. Em fevereiro do mesmo
ano participei do meu primeiro acampamento de carnaval em Rio Preto. Eu
admirava os pastores no exercício de ensinar a Palavra de Deus e um desejo de
enveredar por este mesmo caminho começou a brotar em meu coração. Compartilhei
isso com meu pastor na época, Rev. Leonardo e começamos a orar à respeito.
Em dezembro de 1997 fiz minha
Pública Profissão de Fé e Batismo, em Janeiro de 1998 eu pedi ao Conselho da
Igreja que em enviasse ao Seminário. O pastor Leonardo disse que eu era muito
novo para seminário e que se fosse do meu interesse me enviarei no ano seguinte
para um Instituto Bíblico da Igreja Presbiteriana do Brasil. Nesta ocasião, o
Conselho da Igreja me disse que eu tinha de ser avaliado quanto ao meu chamado
para o ministério. Essa avaliação se daria por meio de trabalhos meus feitos
com a Igreja. Todo o ano de 1998 foi nesse sentido. O pastor Leonardo me
ensinou a fazer estudos bíblicos e me permitia ministrá-los nas Quintas feiras
na Igreja, sempre sob sua supervisão. Também ministrava outros estudos para os
jovens de sábado à noite supervisionado por um Presbítero e aos domingos pela
manhã ministrava aulas para a classe do primário da Escola Bíblica Dominical da
Igreja. No findar de 1998, por decisão unânime o Conselho da Igreja me enviou
ao IBEL (Instituto Bíblico Eduardo Lane), em Patrocínio-MG. Lá cursaria 3 anos.
O fim de minha história de certo
modo se dá no primeiro ano do IBEL. Houve momentos em minha vida em que eu não
sabia, mas Deus estava lá ao meu lado me abençoando e cuidando de mim. Depois
da minha conversão eu passei a conhecer o Senhor e Ele sempre foi muito
misericordioso comigo, mas eu ainda tinha muitos resquícios do passado. Na
realidade uma altíssima baixa alta-estima tomava conta de meu coração. Por conta
disso, mesmo depois da conversão sempre tive muitas dificuldades para
racionalmente optar por lutar contra os obstáculos que se me apresentavam no
decurso da vida. Um desses obstáculos era minha fala. Por causa de todo
contexto emocional da infância eu desenvolvi gagueira e isso me incomodava
demais. Em meados de 1999, primeiro ano
no IBEL, por causa da gagueira, completamente desestimulado para continuar com
aquilo que eu sentia ser meu chamado ministerial. Tomei a decisão de ir embora
do IBEL. Naquela noite fui para meu quarto e arrumei minhas malas e de joelhos
orei ao Senhor entregando meu chamado, na realidade eu não queria desistir, mas
achava que aquela dificuldade era tamanha que não tinha outra solução. Em meio
às lágrimas na oração, ouvia um colega que na quadra de esportes, ao fundo do
meu quarto tocando seu violão e cantava uma música cuja refrão repetia a frase
“Rompendo em fé”. Naquela hora tomei uma decisão e disse para o Senhor: Senhor
Deus, faço hoje com o Senhor um pacto e voto. Peço a Ti que me dê forças para
nunca mais, desde que entenda que é tua vontade para minha vida, eu venha a
desistir de qualquer coisa que o Senhor colocar em meu caminho. O Senhor me
dará a força necessária para vencer meus obstáculos, sejam lá quais forem eles,
se pequenos ou grandes, se pavorosos aos meus olhos ou não e eu prometo que
nunca, jamais desistirei de alguma coisa que o Senhor colocar para eu fazer. Se
eu desistir o Senhor me mata porque não terei mais propósito diante de Ti.
Fiz este voto com 23 anos de idade.
Hoje aos 41, testifico as maravilhas que Deus fez em meu coração. Confesso que
ao longo destes 18 anos, houve ocasiões que pensei em desistir, mas a lembrança
do voto me manteve no caminho. Eu fiz este voto empenhando minha vida porque eu
me conheço e acho que se não fosse algo tão radical como minha própria vida,
talvez em outras dificuldades eu teria sucumbido.
Hoje sou pastor Presbiteriano, tenho
uma família abençoado, uma esposa maravilhosa, uma filha que veio como renovo
em minha vida, e um filho à caminho para dar continuidade ao meu nome.
Sobre a gagueira .... Melhorei
bastante, quase não gaguejo mais, mas não sarei completamente. Na realidade
compreendi o propósito dela em minha vida. Ela me faz lembrar que minha
suficiência não vem de minha capacidade mas da minha total dependência de Deus.
Por isso eu O louvo e O engrandeço.
Deus faz
milagres todos os dias nos corações que olham para sua Palavra com fé