segunda-feira, 26 de março de 2018

Deus faz milagres todos os dias


Estive em Fevereiro de 2018 pregando na cidade de Guariba-SP, Onde tive o privilegio de conhecer o Rev. André Rossi e passar um tempo muito precioso com sua igreja e família e quando ele me trazia para Ribeirão Preto de onde pegaria meu ônibus para Anápolis, ele me deu um grande presente ao contar sua experiência de conversão. Fui profundamente impactado pela sua história e o encorajei a escrevê-la. Ele o fez com muita graça, e agora trago aqui o presente que recebi. 

Leia e desfrute!


Deus faz milagres todos os dias nos corações que olham para sua Palavra com Fé

            Minha mãe faleceu em 1981, vitimada por um tumor no cérebro, com 36 anos de idade quando eu tinha 4 anos e meio e minha irmã caçula 2 anos e meio. Meu pai, sofrendo com a tentativa do sogro de buscar judicialmente a minha guarda e da minha irmã e também motivado pela necessidade de ter alguém que cuidasse de seus filhos dando assim o curso natural à sua vida, casou-se novamente no ano seguinte com uma, até então, completa desconhecida. Na época, meu pai contava com 34 anos e sua nova esposa com 19.
A partir disso tudo mudou uma nova realidade se instalou na minha vida e da minha irmã. Mudanças bruscas chegaram. Meu pai que até então era católico, por causa do novo casamento passou a ser Testemunha de Jeová, religião da nova esposa. Como Testemunhas de Jeová, não podíamos comemorar mais nossos aniversários e raramente participávamos das festas de aniversários dos primos. Também na escola não podíamos cantar o Hino Nacional ou participarmos absolutamente de nada que envolvesse, do ponto de vista dos Testemunhas de Jeová, qualquer “culto” à Pátria ou à Bandeira. Dia dos Pais e das mães foram abolidos de nossa realidade. Não podíamos mais colorir desenhos ou levá-los para casa para homenagear nosso progenitor e nossa nova cuidadora.
De todas as mudanças, a mais drástica foi a distância que tínhamos que ter de nosso pai. Minha madrasta, talvez pela pouca idade e falta de experiência, tinha a mim e a minha irmã como rivais do amor de meu pai. No início do casamento nem tanto, porque meu pai mantinha um monitoramento intenso sobre a adaptação da nova família, mas depois de um tempo quando a confiança na nova esposa adquiriu determinada escala, meu pai afrouxou as rédeas da supervisão passando a confiar no “cuidado proposto”, o que era preciso e esperado, foi aí que as agressões tiveram seu início. Tenho guardado na memória muitos eventos desses. As agressões nunca eram verbais, sempre físicas e todas em oculto dos olhos de meu pai. Demorou muito para que ele percebesse que algo estava errado. O ponto de partida dessa percepção foi ocasionado por desconfianças semeadas por uma tia, irmã de minha mãe e por um hematoma na cabeça de minha irmã. O caso do hematoma foi o seguinte: Morávamos em um apartamento no centro da cidade e no calor, como éramos pequenos minha madrasta gostava de nos dar banho no tanque de pedra de lavar roupas. Pois bem, minha irmã foi a primeira e nesse processo, quando a madrasta se dedicou a lavar a cabeça da minha irmã, esta não se comportou como a madrasta esperava ou queria e sem paciência e com raiva, com os dedos entrelaçados nos cabelos de minha irmã bateu a cabeça dela 3 vezes contra a pedra do tanque. Eu, paralisado pelo medo de apanhar não tinha coragem de fazer ou falar alguma coisa. Chorei em silêncio e sem lágrimas externas esperava que aquela tortura parasse. Depois do ocorrido, se dando conta do consequente “galo” mandou que minha irmã e eu omitíssemos tal fato de meu pai, e assim se deu. Contudo, quando ele chegou em casa, nós mantivemos certa distância dele (para não incorrer na ira da madrasta), mas ele insistentemente nos chamou para conversar e brincar, minha irmã se assentou em seu colo e ele querendo acaricia-la passou a mão sobre sua cabeça e percebeu o “galo”, olhou para mim e disse: “Não me diga nada com a boca, apenas acene com a cabeça.... você sabe a razão deste machucado na cabeça da tua irmã?” Acenei positivamente. Depois perguntou novamente: “isso aconteceu brincando?” Acenei negativamente. “Foi a Marli (madrasta) quem fez?” Acenei positivamente. Ele se levantou e me disse: “Fique com tua irmã”. Naquela hora uma mistura de alívio e medo se apoderou de mim. Alívio porque a esperança de que algo mudaria despontou no horizonte. Por outro lado, o medo da retaliação era também presente. Foi a primeira briga que tenho lembrança. Aquela noite o silêncio tomou conta da casa. Na manhã seguinte, ouvi quando meu pai se despedia para ir ao trabalho e o bater da porta marcando sua saída, alguns segundos depois minha irmã e eu fomos retirados da cama debaixo de socos e puxões de cabelo no pé da cabeça. Nada havia mudado.
Dentre os vários métodos de castigos lembro-me claramente das múltiplas chineladas nas costas das pernas com chinelos havaiana, dos socos na cabeça, dos tapas na boca, das cintadas no bumbum e é claro não poderia esquecer-me do mais corriqueiro, o famoso puxão de orelhas num método todo peculiar de pegar, apertar, torcer e levantar, o que me rendeu um descolamento da orelha. Nesta ocasião meu pai fez um curativo e me levou ao Conselho Tutelar da minha cidade. Mas como ele fez um curativo e não tinha mais a presença de sangue, eles apenas o orientaram no modo futuro de procedimento em caso de repetência do fato. Ainda hoje é impossível não se emocionar com tais lembranças.
O ponto final deste período da história se deu quando numa certa ocasião, na casa da mãe da minha madrasta, no famoso banho no tanque de lavar roupas, pelas mesmas razões apresentadas acima quando do episódio semelhante, ouvi da boca da irmã da madrasta o seguinte dizer: “Marli, Marli, este menino não será criança para sempre, um dia ele crescerá e aí ele vai te pegar”. Confesso que nunca havia pensado nisso. Mas naquela ocasião essas palavras fizeram efeito. Eu pensei: “É verdade!!!!! Vou esperar esse dia chegar!!!! 3 anos se passaram e o dia esperado chegou. Numa certa tarde a Marli passava roupas quando por um desentendimento comigo ela tirou o chinelo havaiana do pé e com ele em uma das mãos insinuou que me bateria. Na mesa ocasião, eu já cansado daquela situação que se arrastava há uns 5 ou 6 anos, não aguentando mais apanhar declarei que jamais ela bateria em mim novamente. Ela assustou e partiu para cima e eu para me defender acabei por machucá-la. O duro é que não fiquei feliz como imaginava que ficaria, pelo contrário, me senti profundamente culpado por tê-la ferido. O embate terminou. Quando meu pai chegou eles final e definitivamente se separam. Por conta da separação meu pai foi “desassociado” dos Testemunhas de Jeová. Este termo significa banido da convivência, do culto e das amizades dos TJs.
Agora, com a madrasta longe não restava alternativa a não ser morarmos com a avó, mãe do pai. E assim foi feito. Minha avó era espanhola. Chegou ao Brasil com 5 anos de idade. Se orgulhava de ter aprendido e mantido a tradição religiosa da família, o catolicismo. Mas além de católica a vó também era benzedeira. Não sei se isso ela aprendeu com a família. Mas sei que a vivência na casa dela era boa por um lado e misteriosa e mística por outro. Era boa porque como avó ela nos paparicava muito e era muito bom e gostoso tudo o que ela fazia. Mas era também misteriosa e mística porque ela dizia que falava com os mortos. Certa feita, ainda no período posterior à morte de minha mãe e anterior ao novo casamento de meu pai, foi com a avó que estivemos e naquele período, por ser ela viúva dormíamos com ela em sua cama. Numa madrugada, o quarto todo escuro, acordei e vi minha avó assentada na beira da cama, mesmo escuro era possível ver o seu vulto. Eu também a ouvia conversando com alguém. Quando me assentei para ver com quem ela falava, elas se despediram e eu não vi ninguém. Quando perguntei a ela com quem falava ela disse que era com uma menina que todas as noites aparecia para ela no quarto chamando-a para conversar. “A menina te ouviu e foi embora”, disse ela. Eu nunca vi ou ouvi a voz desta “menina”, mas por várias vezes me recordo de ver a vó assentada na beira da cama conversando com alguém. Por outro lado, todas as noites quando íamos dormir eu ouvia passos na casa. Minha avó dizia que não era ninguém, mas eram passos o que minha irmã e eu ouvíamos. Quando não eram os passos ouvíamos a porta do forno do fogão abrir e fechar. Todo esse contexto da casa da avó perdurou minha adolescência inteira e inicio da juventude. A vó dizia que eu precisava de Deus e me incentivava a fazer a catequese. Por respeito a ela eu fui, mas na segunda aula fui mandado embora pelo catequista. Ora, eu queria saber por que as coisas eram como estavam sendo ensinadas, mas ele não teve paciência para minhas perguntas e me convidou a me retirar o que fiz prontamente.
Nessa mesma época meu pai frequentava o espiritismo kardecista e por causa dele eu o acompanhava. Um dia os médiuns disseram-lhe que eu tinha o “dom da mediunidade” e que ele precisava me levar mais para que esse dom fosse desenvolvido. Daquele dia em diante ele me proibiu de ir ao centro espírita e eu nunca mais voltei.
Noutra ocasião fui com um amigo em uma casa que para entrarmos era preciso pedir licença ao Diabo. Uma vez lá dentro, um demônio se aproximou de mim e ofereceu seus serviços para disciplinar aqueles que agissem com injustiça para comigo. Ele disse que quando eu desejasse a ajuda dele era para eu falar o nome do sujeito ofensor, o nome do demônio e bater o pé 7 vezes no chão. Certa ocasião, quando alguém me maltratou verbalmente pensei em invocar a ajuda demoníaca mas ao mesmo instante tive muito medo do que poderia acontecer com a tal pessoa e não invoquei o demônio. Naquele dia pedia Deus que me fizesse esquecer aquele nome e assim se deu.
Eu pensava que com a madrasta longe as lutas cessariam. Na realidade, elas se apresentaram de outra forma agora. Minha avó era muito idosa quando fomos morar com ela. Contava com aproximadamente 78 anos. Não tinha mais vigor para acompanhar a criação dos netos. Meu pai na época viajava muito a trabalho chegando inclusive a ficar de 20 a 30 dias fora. Meu tio solteiro que morava com minha avó acabou ocupando a posição de pai embora com algumas ressalvas. O fato é que em minha vida um sentimento intenso de raiva começou a tomar lugar em meu coração. Não tinha explicação. Eu acordava à noite sentindo muita raiva e a única maneira que conhecia para aliviar esse sentimento era sentindo dor. Eu pegava um canivete que meu pai me deu e com ele cortava o peito duas ou três vezes. Depois de me cortar, revestia meu peito com papel higiênico para ninguém perceber o sangue e voltava a dormir. Era o que me aliviava. Mais tarde o tio e meu pai me ensinaram a andar de carro, eu tinha apenas 12 anos quando aprendi a dirigir. Eu era apaixonado por carros. Meu tio deixava eu dirigir seu fusca no bairro onde morávamos. Como eu amava dirigir! O fato é que por causa do sentimento de raiva que brotava em meu coração a rebeldia se instalou e a válvula de escape era o carro. Direção perigosa, cavalos de pau, e atos irresponsáveis com carros faziam parte das opções. Além das manobras arriscadas, a bebida alcoólica também foi adicionada aos momentos. Graças a Deus, drogas tais como maconha e cocaína conheci apenas com os olhos.
Um tio, irmão de minha mãe me ofereceu trabalho em sua loja de acessórios de carro, uni a necessidade com o prazer. Trabalhei com ele durante quase toda a adolescência. Ele tinha um funcionário que era pastor da Igreja Evangélica Deus é Amor e durante muito tempo esse moço me falou do amor de Jesus. Eu o ouvia com atenção e respeito, mas ainda não foi daquela vez.
A raiva crescia, muitas vezes pensei em suicídio. Aparentemente eu era desprovido de amor e cuidado por mim mesmo. Sempre me arriscava por demais em tudo o que envolvesse carro ou algo motorizado. Contudo, alguma coisa dentro de mim, nunca me deixou levar à cabo os projetos de suicídio. Uma vez contei a meu pai sobre esse meu desejo. Na época, meu pai também se achava em tempestades por todos os lados. Então ele me disse: “Filho, na minha instrução religiosa o suicida vai para o inferno. Eu não quero isso para você. Pense bem nisso que você está me dizendo e se quiser morrer mesmo eu mato você. Eu já estou no inferno, o peso da tua morte não me acrescentará mais nada.” Eu respondi para ele que pensaria e que na semana seguinte daria a resposta. Confesso que naquela semana considerei verdadeiramente a proposta. Considerei com sinceridade, mas o medo da morte tornou-se mais forte. Findando a semana voltamos a falar sobre o caso e lhe disse que havia pensado e que ficaria por aqui mais um pouco “kkkkkk”. Disse a ele que se mudasse de ideia o avisaria.
Dentre todos os meus amigos, havia um que se destacava. Com esse tal eu fazia as artes de carro e quase todas as loucuras daquela faze. Num certo fim de semana, depois de andarmos 70 km de bicicleta, ele me avisou que não sairíamos para o centro da cidade naquele sábado, pois tinha de buscar a namorada na casa da tia dela em São José do Rio Preto. Nos despedimos e cada um foi para seu destino. Eu tinha a intenção de ir para casa, tomar banho e sair, ele iria buscar a namorada. Depois do banho tomado e arrumado avisei a vó que iria dar uma voltinha, mas quando saía da casa propriamente dito, senti como que alguém me dizia para não sair e ficar em casa. Resolvi ficar. Passados uns 30 minutos um “buzinaço” de início na porta da casa da vó. Quando fui ver do que se tratava eis que era meu amigo, de carro me chamando para ir com ele para Rio Preto. Perguntei por que ele havia mudado de ideia. Ele respondeu que já estava na pista em direção à São José do Rio Preto e já andara cerca de 15 km, quando uma força constante e intensa o compelia a voltar e me buscar. Achei aquele trem meio estranho, mas avisei a vó e fomos para Rio Preto.
Em São José do Rio Preto conheci a tia da namorada dele, chamava-se Carmem. Ficamos na casa dela aquele fim de semana. Por razões inexplicáveis os dois dentes do cinzo meus e dele resolveram nascer naquela noite de sábado. Com a boca inchada e quase sem podermos falar ficamos confinados à casa da tia naquela noite. No domingo, antes de voltarmos para Catanduva, a Carmem me fez um convite. Ela disse que estava abrindo um escritório imobiliário em Fernandópolis e precisava de gente para trabalhar. Disse que como estava no início do empreendimento em Fernandópolis não poderia pagar meu salário em dinheiro, mas me garantiria casa, comida, roupas lavadas e o ensino do ofício de corretor de imóveis. Disse a ela que precisava falar com meu pai. Chegando em Catanduva lhe passei a oferta tal como havia recebido. A resposta dele me surpreendeu, ele disse: Pode ir! Eu perguntei se ele entendeu que eu não receberia salário em dinheiro? Ele respondeu que o conhecimento que adquiriria não tinha preço e que eu deveria me preparar com todas as oportunidades que me aparecesse de saberes, pois o dia de amanhã era muito incerto. Ele disse: tudo o que você aprender hoje, poderá ser usado amanhã numa eventual necessidade tua. Fiz minhas malas e fui.
Cheguei a Fernandópolis no inicio de dezembro de 1995, eu estava com 18 anos de idade. Naquele mês foi a primeira vez que participei de um culto na Igreja Presbiteriana. Fiquei encantado com o grupo de louvor e com o pastor, Rev. Daniel Custódio. Fui muito bem recebido pela igreja. No que concerne à pregação do pastor eu ainda me achava com o coração endurecido. Contudo, a Carmem quase todos os dias me falava do amor de Jesus e da necessidade de fé nele, do arrependimento e mudança de vida. Na noite do dia 15 daquele mesmo mês, achávamos na casa dela eu e ela somente, suas filhas haviam saído com o pai. Eu estava na sala assistindo à televisão e ela estava na copa lendo a Bíblia. Inadvertidamente visitas chegaram à casa. Carmem deixou sua Bíblia sobre a mesa da copa e foi com as visitas para a cozinha. Na mesma hora a raiva começou a florescer e abruptamente aumentava mais e mais. Foi a primeira vez que senti vontade de ir à igreja. Era uma sexta feira, não havia nenhuma atividade da igreja em curso. A Carmem me ofereceu o seu carro para eu dar uma volta, mas a raiva era tamanha que se eu saísse com o carro dela a coisa não terminaria bem. Meu desejo era ir embora e voltar para minha cidade. Comecei a andar pela casa e nesse percurso eu passava pela copa e via a Bíblia sobre a mesa. Havia alguma coisa muito forte que tencionava me levar a ler a Bíblia. Mantive-me firme até onde deu. Sentei-me à mesa. Peguei a Bíblia e fiz minha primeira oração. Eu disse: “Oh Deus, eu não te conheço. A Carmem te conhece e mais um tanto de gente e todos eles dizem que o Senhor existe, conhece a vida de todos e é o único que pode mudá-las. Eu não sei porque minha vida é assim. Mas eu estou cansado. Por favor! Se o Senhor pode mudar minha vida mude. Eu não sei orar, mas vou abrir a Bíblia, fale comigo por favor!” Quando abri a Bíblia chamou-me atenção o Salmo 42. Cada verso lido deste Salmo foi como se eu estivesse vendo minha história passar toda diante dos meus olhos com uma única novidade, ele me mostrava o que precisava fazer: “Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu.” (Salmo 42.11). Ao findar da leitura deste Salmo toda a raiva foi embora e nunca mais voltou. No lugar da raiva uma alegria incontrolável tomava conta de toda minha alma. As visitas, fechada a Bíblia se retiraram imediatamente. Chamei a Carmem e lhe contei todo o ocorrido. Ela ficou maravilhada com meu relato e sem titubear me disse: Você que entregar tua vida para Jesus? Sim, eu respondi. Ela me levou imediatamente para a sala de sua casa, me colocou de joelhos e orou comigo. Foi ali que entreguei minha vida a Cristo. No dia seguinte, num espaço de meia hora, 4 pessoas distintas, sem falar uma com as outras e em momentos distintos e restritos à minha pessoa somente me interpelaram sobre a razão pela qual minha fisionomia se encontrava leve, alegre, esperançosa e não mais carrancuda, cabisbaixa e iracunda. A cada uma contei o ocorrido da noite passada como a única coisa que me havia acontecido extraordinariamente.
            No dia 28 daquele mesmo mês foi meu aniversário de 19 anos. A Carmem me deu minha primeira Bíblia. No ano seguinte 1996 eu li naquela Bíblia duas vezes o Velho Testamento inteiro e 3 vezes o Novo.
            Infelizmente em o escritório imobiliário da Carmem não deu certo em no segundo semestre de 1996 ela empreendeu os preparativos para retornar à Rio Preto.
            Em Janeiro de 1997 comecei a frequentar a Igreja Presbiteriana na minha cidade natal. Em fevereiro do mesmo ano participei do meu primeiro acampamento de carnaval em Rio Preto. Eu admirava os pastores no exercício de ensinar a Palavra de Deus e um desejo de enveredar por este mesmo caminho começou a brotar em meu coração. Compartilhei isso com meu pastor na época, Rev. Leonardo e começamos a orar à respeito.
            Em dezembro de 1997 fiz minha Pública Profissão de Fé e Batismo, em Janeiro de 1998 eu pedi ao Conselho da Igreja que em enviasse ao Seminário. O pastor Leonardo disse que eu era muito novo para seminário e que se fosse do meu interesse me enviarei no ano seguinte para um Instituto Bíblico da Igreja Presbiteriana do Brasil. Nesta ocasião, o Conselho da Igreja me disse que eu tinha de ser avaliado quanto ao meu chamado para o ministério. Essa avaliação se daria por meio de trabalhos meus feitos com a Igreja. Todo o ano de 1998 foi nesse sentido. O pastor Leonardo me ensinou a fazer estudos bíblicos e me permitia ministrá-los nas Quintas feiras na Igreja, sempre sob sua supervisão. Também ministrava outros estudos para os jovens de sábado à noite supervisionado por um Presbítero e aos domingos pela manhã ministrava aulas para a classe do primário da Escola Bíblica Dominical da Igreja. No findar de 1998, por decisão unânime o Conselho da Igreja me enviou ao IBEL (Instituto Bíblico Eduardo Lane), em Patrocínio-MG. Lá cursaria 3 anos.
            O fim de minha história de certo modo se dá no primeiro ano do IBEL. Houve momentos em minha vida em que eu não sabia, mas Deus estava lá ao meu lado me abençoando e cuidando de mim. Depois da minha conversão eu passei a conhecer o Senhor e Ele sempre foi muito misericordioso comigo, mas eu ainda tinha muitos resquícios do passado. Na realidade uma altíssima baixa alta-estima tomava conta de meu coração. Por conta disso, mesmo depois da conversão sempre tive muitas dificuldades para racionalmente optar por lutar contra os obstáculos que se me apresentavam no decurso da vida. Um desses obstáculos era minha fala. Por causa de todo contexto emocional da infância eu desenvolvi gagueira e isso me incomodava demais. Em meados de 1999,  primeiro ano no IBEL, por causa da gagueira, completamente desestimulado para continuar com aquilo que eu sentia ser meu chamado ministerial. Tomei a decisão de ir embora do IBEL. Naquela noite fui para meu quarto e arrumei minhas malas e de joelhos orei ao Senhor entregando meu chamado, na realidade eu não queria desistir, mas achava que aquela dificuldade era tamanha que não tinha outra solução. Em meio às lágrimas na oração, ouvia um colega que na quadra de esportes, ao fundo do meu quarto tocando seu violão e cantava uma música cuja refrão repetia a frase “Rompendo em fé”. Naquela hora tomei uma decisão e disse para o Senhor: Senhor Deus, faço hoje com o Senhor um pacto e voto. Peço a Ti que me dê forças para nunca mais, desde que entenda que é tua vontade para minha vida, eu venha a desistir de qualquer coisa que o Senhor colocar em meu caminho. O Senhor me dará a força necessária para vencer meus obstáculos, sejam lá quais forem eles, se pequenos ou grandes, se pavorosos aos meus olhos ou não e eu prometo que nunca, jamais desistirei de alguma coisa que o Senhor colocar para eu fazer. Se eu desistir o Senhor me mata porque não terei mais propósito diante de Ti.
            Fiz este voto com 23 anos de idade. Hoje aos 41, testifico as maravilhas que Deus fez em meu coração. Confesso que ao longo destes 18 anos, houve ocasiões que pensei em desistir, mas a lembrança do voto me manteve no caminho. Eu fiz este voto empenhando minha vida porque eu me conheço e acho que se não fosse algo tão radical como minha própria vida, talvez em outras dificuldades eu teria sucumbido.
            Hoje sou pastor Presbiteriano, tenho uma família abençoado, uma esposa maravilhosa, uma filha que veio como renovo em minha vida, e um filho à caminho para dar continuidade ao meu nome.
            Sobre a gagueira .... Melhorei bastante, quase não gaguejo mais, mas não sarei completamente. Na realidade compreendi o propósito dela em minha vida. Ela me faz lembrar que minha suficiência não vem de minha capacidade mas da minha total dependência de Deus. Por isso eu O louvo e O engrandeço.

Deus faz milagres todos os dias nos corações que olham para sua Palavra com fé

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